20.000 Espécies de Abelhas: o nome é a escolha da própria dignidade
Título original: 20.000 Especies de Abejas (20.000 Species of Bees)
País de origem: Espanha
Duração: 125 minutos
Gênero: drama
Direção e roteiro: Estibaliz Urresola Solaguren
Produção: Lara Izagirre Garizurieta e Valérie Delpierre
Direção de fotografia: Gina Ferrer García
Montagem: Raúl Barreras
Design de produção: Izaskun Urkijo
Som: Eva Valiño
Edição de som: Julen Valmaseda
Empresas produtoras: Gariza Films e Inicia Films
Distribuição (Brasil): Imovision
Elenco: Sofía Otero, Patricia López Arnaiz, Ane Gabarain, Itziar Lazkano, Martxelo Rubio, Sara Cozar, Miguel Garcés, Unax Hayden, Andere Garabieta Oribe, Julene Puente Nafarrate
Fator maior de comoção particular em 20.000 Espécies de Abelhas (título original: 20.000 Especies de Abejas) (Imovision, 2023) foi poder vislumbrar crianças apresentarem questões da subjetividade dentro do universo da própria infância, sob seu vocabulário e sem intervenções externas, enquanto a pessoas adultas coube, como devido, a responsabilidade de auxiliá-las, de informá-las e de acolhê-las em dignidade. Com direção e roteiro de Estibaliz Urresola Solaguren, o longa-metragem inicia-se com a decisão pela passagem das férias em separado de um casal em crise e conclui-se com a busca de Lucía (Sofía Otero) por entender a si e ao corpo a abrigar-lhe no mundo. Enquanto indagava a mãe Ane (Patricia López Arnaiz) e o irmão Eneko (Unax Hayden) a respeito de como sempre souberam ser quem eram, Lucía confundia-se com um Aitor envergonhado por não reconhecer no corpo o que compreendia não ser. Por sorte, a sensibilidade de um tia Lourdes (Ane Gabarain) pôde — em verdade, ainda pode, se crianças, e crianças trans, no círculo social-afetivo imediato houver — acolher quem Lucía, em sua companhia, sentia-se livre para ser e demolir a resistência da mãe sobre Cocó, alcunha empregada pela então melhor amiga Niko (Julene Puente Nafarrate), porque assim, e antes, apresentada por sua menina.
A associação feita entre o significado aprendido da palavra “fé” com a avó Lita (Itziar Lazkano) e a história da santa cujo nome Lucía escolheu para si iguala-se ao que de mais belo já pude ver e sentir na sala escura, assim como a ressignificação, ao longo da trama, de Cocó, xingamento antes utilizado pela irmã mais velha Nerea (Andere Garabieta Oribe) para diminuí-la. Enquanto os vários close-ups, outros numerosos planos detalhes e a instabilidade da câmera fazem captar o mundo abalado e a abalar de cada personagem, o repousar ao lado estável inferido na decupagem da cena final é o de alcance do despertar a todos.
Ao contrário das adultas e dos adultos do entorno, crianças e abelhas parecem mais disponíveis ao acolhimento. Eneko ouviu prontamente o pedido de Lucía e, antes mesmo da santa, acolheu o nome escolhido da irmã em momento-chave. Já as abelhas, quando avisadas da escolha, voaram ao redor da recém-chegada. Enigmático parece-me ser não quem apresente como quer ser reconhecida, mas o alguém a resistir a apresentar-se diante do chamamento. Lucías existem e, como tal, merecem ser respeitadas pelo nome que melhor acolhe a própria dignidade.
Assistido no Festival do Rio.